O dinheiro anda sempre curto e você não consegue economizar? O primeiro passo pode ser dar uma segurada nessa vontade louca de consumir sempre mais e mais
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No filme Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, a personagem principal é uma consumista compulsiva. Ela não consegue deixar de ir a uma liquidação e fica sem pagar contas importantes só para descolar uma bota pink da Gucci! #coitada |
Por que é tão gostoso gastar para comprar algo que a gente realmente gosta? Essa pergunta tem muitas respostas. A primeira possível é a de que o prazer do consumo está em satisfazer uma necessidade nossa. Então, quando a nossa velha calça jeans vira, de verdade, um trapo, compramos outra para substituí-la, por exemplo.
O problema é que a gente não compra um jeans novo – ou um tênis, ou um CD – só quando realmente precisa dele. Muitas vezes, compramos só para entrar na onda dos amigos, na moda da estação ou, pior, para tentar esquecer um ou outro probleminha que anda nos deixando pra lá de chateadas. Já parou para pensar nisso? “É muito comum, principalmente na adolescência, comprarmos algo pensando no que os outros vão achar, porque temos uma necessidade de conquistar a admiração, principalmente dos amigos da turma.
Porém, é preciso tomar cuidado para não cair na armadilha do ‘ter para ser’. Quando passamos a depender de algo externo para nos sentir bem e seguras, é sinal de que a nossa autoestima não está tão bem”, avisa a psicóloga Patrícia de Rezende, especialista em finanças pessoais. Também acontece de descontarmos no consumo algo que tem mais a ver com o nosso emocional. “Por exemplo: a garota tem raiva e não consegue colocar para fora. Ou está triste e não sabe como conversar a respeito.
Então, vai ao shopping e gasta até o que não tem para ver se assim fica um pouco melhor”, explica a psicanalista Ana Olmos. E é aí que mora o perigo, porque o prazer de comprar, quando não está ligado a uma necessidade real, acaba sendo passageiro. E daí a um minuto, quando aquela euforia passar, vamos ter de comprar novamente outra coisa, para suprir a sensação de vazio. E é claro que, mais dia, menos dia, tanto exagero acaba gerando dívidas difíceis de pagar.
Se você quer chegar ao final do mês sem apertos, o primeiro passo é segurar a onda nas compras. Para isso, vale se perguntar se realmente precisa daquilo que deseja consumir, antes de abrir a carteira. Uma alternativa é usar a técnica do dia seguinte. “Se você não se planejou para comprar determinado objeto, mas saiu, viu algo interessante e ficou com vontade de levar para casa, não faça isso na hora. Volte, esfrie a cabeça e, se realmente tiver certeza de que se trata de um bom negócio, retorne à loja no dia seguinte. Isso evita as compras por impulso, aquelas que geralmente fazem a gente se arrepender depois”, ensina Antonio de Julio, instrutor financeiro do MoneyFit.
Também é bacana fazer uma planilha, mesmo que tosquinha, para planejar seus gastos. É fácil: crie um arquivo, no Word ou no Excel, onde vai anotar toda a grana que entra (da sua mesada, por exemplo) e todas as despesas que terá durante o mês. É assim que você vai ficar sabendo, enfim, para onde está indo a sua grana. Essa ferramenta também permite que você tenha noção exata do quanto vai sobrar, descontando as despesas fixas, para gastar com coisas supérfluas, como a entrada do cinema.
A tal da planilha torna, ainda, muito mais fácil a tarefa de se organizar para poupar uma grana, todo mês, até chegar à quantia que você precisa para fazer aquela viagem dos sonhos ou aquele curso carésimo. “O importante é não deixar de anotar, nessa planilha, os gastos pequenos, como o lanche da escola ou a pipoca do cinema, por exemplo. Pode não parecer, mas, juntas, essas despesas vão fazer toda a diferença no seu orçamento, no fim do mês”, avisa de Julio.
Manter esses grandes objetivos sempre em mente é uma maneira eficiente de lidar com a sua própria vontade de comprar cada vez mais. “A melhor coisa é ter um destino certo para o seu dinheiro, ter um plano bem definido para os objetivos que deseja alcançar em curto, médio e longo prazos. Assim, você vai acabar ficando mais focada naquilo que realmente precisa fazer com o recurso que tem em mãos e provavelmente vai pensar melhor antes de investir em algo desnecessário”, completa a educadora financeira Cássia D’Aquino.
E se você quer ainda mais alguns motivos para aprender a cuidar bem do seu dinheiro, vale pensar também na consequência de consumir muito mais do que você precisa para o meio ambiente. Afinal, quanto mais compramos, mais recursos tiramos da natureza e mais lixo geramos. Então, tornar-se uma consumidora consciente é também uma maneira de ser uma cidadã mais responsável. “O consumidor consciente não age por impulso, planeja suas compras e sabe como administrar seu orçamento. Enfim, faz o dinheiro trabalhar para ele e não o contrário”, explica Valéria Rodrigues, diretora de estudos e pesquisas do Procon (SP).
Beatriz Luz, de 17 anos, é uma das muitas garotas que, por não saber controlar sua vontade de gastar, acabou enfrentando um problemão e tanto em casa. “Desde os 12 anos eu ganho mesada e tenho conta no banco. As coisas só ficaram complicadas para mim quando, há dois anos, de tanto encher meus pais, eles resolveram me dar um cartão de crédito. Para mim, era só um jeito mais prático de pagar as contas”, lembra. Deu certo no começo, mas, um belo dia, a Bia se deparou com uma conta de incríveis R$ 2.500!
“Chegou uma hora em que eu simplesmente parei de fazer contas, comprava tudo o que dava vontade, sem planejar. É verdade que só gastava com coisas pequenas, o meu almoço, um CD… só que no fim, tudo isso somou uma quantia enorme, que eu nunca imaginava que fosse capaz de gastar”, conta. Sem ter a menor condição de saldar a dívida e morrendo de medo da reação dos pais, a Bia optou pela pior saída: escondeu a conta numa gaveta qualquer e continuou gastando, como se nada tivesse acontecido.
“Caí na real quando ligaram para o meu pai cobrando. Daí, é claro que ele ficou muito bravo. Pagou a conta, mas me fez devolver tudo, em pequenas parcelas, pra ele. Depois dessa, até arrumei um emprego, de tão mal que fiquei”, diz. Com o mico, a Bia também aprendeu que cartão de crédito é um negócio perigoso. “Voltei a usar só o cartão de débito. É uma maneira de gastar apenas o que eu recebo”, conta.
Cair numa armadilha como a que pegou a Bia de jeito e gastar mais do que se tem não é exatamente a coisa mais difícil do mundo. E, infelizmente, tem muito adolescente que, sem saber direito como usar cheques e cartões, acaba metendo os pés pelas mãos – e pagando um preço altíssimo por isso!
Então, se você também anda na corda bamba com as suas contas, devendo até pra sombra, aí vão algumas orientações dos especialistas ouvidos na nossa matéria para consertar rapidinho as bobagens que fez até aqui: o mais importante é não imitar a Bia e fingir que a dívida não existe. Quanto mais você deixar o tempo passar, mais os juros vão crescer e mais cara a conta vai ficar. Então, se deu errado uma vez, vá logo procurando seus pais ou alguém de confiança, aguente as broncas merecidas e resolva antes que seja pior pra todo mundo. Não tem saída: é pagar ou pagar.
Arrume um jeito de cortar já os gastos, para evitar rombos maiores no seu orçamento. Outra dica: vá anotando tudo o que gasta num caderno ou na sua planilha do computador, para ter um controle sério das despesas. E lembre-se: para quem está enrolada até o pescoço, qualquer centavo faz diferença.
Por fim, se puder descolar um empreguinho temporário, um bico ou uma maneira de ganhar uns trocos em casa mesmo, lavando o carro do papi ou fazendo algum outro trabalho doméstico, vai ser ótimo. É um jeito de quitar a sua dívida loguinho e ficar na boa de novo. Não tenha vergonha de perguntar absolutamente tudo sobre o produto que vai comprar. É um direito seu ter acesso a essas informações.
– Cuidado com as promoções. Empolgada com os descontos, o risco de levar pra casa algo de que não precisa é grande. E pensa: de que adianta pagar um preço ótimo numa peça que não combina com nada que você já tem? Ou num jeans que não caiu, assim, tão bem, no seu corpo?
– Pesquise preços. Pode acreditar: você vai encontrar muita diferença de valor, de uma loja para outra, num mesmo produto. O lance é bater perna!
– Compare o preço à vista e o parcelado. O nosso país ainda tem, infelizmente, juros altos para as compras a prazo. Daí, quanto maior a quantidade de parcelas, mais caro ficará o produto, no final. Então, vale a pena fazer as contas antes de decidir qual é a melhor opção de pagamento para você.
– Passe longe dos piratas. Eles são mais baratos que os produtos originais, é verdade. Porém, não passam por nenhum teste de qualidade, não recolhem impostos na venda e, muitas vezes, são fabricados com mão de obra ilegal, infantil ou escrava. Então, se você compra, está, de certa forma, colaborando com essas ações criminosas, certo?
Fica a dica: Oneomania é o nome da doença de que sofrem as pessoas que são compradoras compulsivas. Elas só se sentem felizes quando gastam, mas, depois, se arrependem até o último fio de cabelo dos excessos que cometeram. Felizmente, o problema tem tratamento e, nesses casos, o melhor é buscar o quanto antes o acompanhamento de um psicólogo